"É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o
papo é leve, o riso é farto, e o chope é gelado. É fácil amar
o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no
calendário de vez em quando.
Difícil
é amar quando o outro desaba, quando não acredita em mais nada. E entende tudo
errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. A
coerência. O rebolado. Difícil amar quando o outro fica cada vez mais
diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que
não aceitamos que ele esteja. Difícil é permanecer ao seu lado quando
parece que todos já foram embora, quando as cortinas se abrem e ele não vê mais
ninguém na platéia. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que
a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, do nosso
faz-de-conta, para caminhar humanamente ao seu encontro. Difícil é amar
quem não está se amando. Mas esse talvez seja, sim, o tempo em que o outro
mais precisa se sentir amado. Eu não acredito na existência de botões,
alavancas, recursos afins, que façam as dores mais abissais desaparecerem, nos
tempos mais devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na vontade
essencial de transformação, no gesto aliado à vontade, e, especialmente, no
amor que recebemos, nas temporadas difíceis, de quem não desiste da
gente."
- Ana Jácomo.